Moniz Bandeira encontra o Comandante (Homenagem ao Che)
- grupomonizbandeira
- 14 de jun. de 2021
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Atualizado: 15 de fev. de 2022
Em homenagem aos 93 anos de nascimento do Comandante Ernesto "Che" Guevara recordamos o encontro entre o jovem Moniz Bandeira e o Che em 1962, narrado pelo próprio Moniz Bandeira e retirado do livro "De Martí a Fidel: A Revolução Cubana e a América Latina"
"Convém salientar, entretanto, que o conhecimento da revolução, que eu já possuía, pois a
acompanhara atentamente desde seus primórdios, quando Fidel Castro ainda lutava em Sierra Maestra, foi-me de enorme valia.
Conheci Castro em 1959, quando ele passou pelo Brasil, após a reunião do Comitê dos 21, realizada em Buenos Aires. Estive ao seu lado durante o discurso que ele pronunciou na Esplanada do Castelo, no Rio de Janeiro, e assisti a algumas conversas que ele manteve com os estudantes na ocasião.
No ano seguinte, 1960, integrei, como jornalista do Diário de Notícias, do Rio de Janeiro, a comitiva de Jânio Quadros, que, como candidato à presidência do Brasil, fez uma viagem a Cuba. Lá, conheci Che Guevara, com quem conversei, e assisti aos encontros que Quadros manteve com ele e com Fidel Castro, bem como com outros próceres da revolução.
Desde então permaneci em contato com os cubanos e, em 1962, fui convidado a visitar Havana, onde, além de assistir às entrevistas e aos discursos de Castro, tive uma conversa particular, de várias horas, com Che Guevara, no seu gabinete do Ministério da Indústria.
A conversa começou à meia-noite, horário que ele costumava marcar quando queria
estar mais à vontade, e varou a madrugada.
Naquela oportunidade, ao falarmos sobre as controvérsias entre as Ligas Camponesas lideradas por Francisco Julião e dispostas à luta de guerrilha e os militantes do Partido Comunista Brasileiro, ele admitiu a possibilidade de se organizar uma espécie de Internacional com as organizações revolucionárias, que, independentemente e contra a orientação de Moscou, estavam a emergir na América Latina sob o impacto da Revolução Cubana.
Apresentou-me então a John William Cooke, representante da esquerda peronista, e com ele fiquei em contato para acompanhar, por meio da Prensa Latina, as notícias provenientes do Brasil, onde o irmão de Francisco Julião e outros militantes das Ligas Camponesas foram presos, aparentemente em treinamento de guerrilha, em uma fazenda no interior de Pernambuco.
Na mesma época, conheci Luís de la Puente Uzeda, que também estava em Cuba, e Guillermo Lobatón, ambos organizadores do Movimiento de la Izquierda Revolucionaria (MIR) no Peru e mortos pelas Forças Armadas ao deflagrarem, em 1965, a guerra de guerrilha naquele país. Eles sempre me procuraram no Rio de Janeiro, até que o golpe
de Estado (1964) no Brasil levou-me ao exílio no Uruguai, onde o presidente João Goulart,
Leonel Brizola e tantos outros brasileiros se asilaram. Igualmente tive contato com vários outros personagens, como Pedro Abella, do Movimiento Obrero Estudantil Campesino (MOEC) colombiano, e Ernesto Benado, do MIR chileno, o que me permitiu vivenciar a Revolução Cubana em todas as suas dimensões.
Uma vez que era vinculado aos círculos políticos do presidente João Goulart e responsável pela chefia da Seção Política do Diário de Notícias, importante jornal do Rio de Janeiro, acompanhei de perto o movimento nos bastidores diplomáticos, recebendo inúmeras informações confidenciais e secretas que chegavam ao governo brasileiro. Os chanceleres Afonso Arinos de Melo Franco, meu amigo, San Tiago Dantas, com quem tive a honra de trabalhar no Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, e Hermes Lima, meu mestre na Faculdade de Direito e também amigo, bem como Evandro Lins e Silva, que serviram aos governos de Quadros e Goulart, manifestaram diversas vezes confiança
na minha discrição." (Moniz Bandeira, "De Martí a Fidel: A Revolução Cubana e a América Latina")

Moniz Bandeira está de pé na comitiva brasileira que entrevistava Che. De frente ao Comandante o presidente Jânio Quadros (1960).







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